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Difícil fotografar o silêncio
Entretanto tentei.
Eu conto:
Madrugada, a minha aldeia estava morta.
Não se via ou ouvia barulho, ninguém passava entre as casas.
Eu estava saindo de uma festa.
Eram quase quatro horas da manhã.
Ia o silêncio pela rua carregando um bêbado.
Preparei a minha máquina. O silêncio era um carregador?
Estava carregando um bêbado. Fotografei esse carregador.
Tive outras visões naquela madrugada.
Preparei minha máquina de novo.
Tinha um perfume de jasmim no beiral do sobrado. Fotografei o perfume.
Vi uma lesma pregada na existência mais do que na pedra.
Fotografei a existência dela.
Vi ainda um azul-perdão no olho de um mendigo. Fotografei o perdão.
Olhei uma paisagem velha a desabar sobre uma casa. Fotografei o sobre.
Foi difícil fotografar o sobre.
Por fim, eu enxerguei a nuvem de calça.
Representou para mim que ela andava na aldeia de braços com Malakoviski – seu criador.
Fotografei a nuvem de calça e o poeta.
Nenhum outro poeta no mundo faria uma roupa mais justa para cobrir sua noiva. A foto saiu legal.
(BARROS, 2008).

Fotografias Sonia Lyra

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