Diferentemente do fundador da psicanálise, que prefere evitar
Nietzsche, ao menos publicamente, Jung se coloca diante dele disposto a debater com o autor do Zaratustra e extrair dele elementos para a sua própria ciência e para explicitar suas próprias intuições, como nos mostra
Sonia Lyra
O objetivo da autora deste livro é bem claro. Ela não pretende apenas mostrar como ocorre a leitura de Nietzsche por Jung, mas também avaliar o alcance desse debate, questionando, por exemplo, se "Jung estaria fazendo apenas uma análise psicológica de Nietzsche, ou se ele apresenta uma contribuição filosófica". Sonia Lyra pretende apresentar um trabalho relevante para a filosofia e, embora seu texto pareça despretensioso, seu leitor não pode se deixar enganar. Há aqui um canto de sereia. E o jogo de sedução tem início com os assuntos selecionados pela autora. Observe-se que ela parte do tema da morte de Deus para culminar no modo como, a partir dele, se delineia o problema do niilismo na cultura ocidental. Isto como uma espécie de pressuposto para adentrar, em seguida, nos temas próprios da psicologia junguiana correlacionados, necessariamente, com a força existencial da expressão de Nietzsche na fórmula "Deus está morto", Não é um trabalho despretensioso que aqui se apresenta, e não apenas por ser uma pesquisa inédita no Brasil. Trata-se de um trabalho tecnicamente bem montado, tecido com uma fina trama de conceitos encadeados em teses explicitadas em movimentos que lembram uma obra Mas sua maior riqueza ultrapassa seu caráter inédito ou sua arquitetura e se configura por ser uma tentativa de sedução. Nele, a beleza é apenas o artifício que atrai para as possibilidades, a fertilidade de pensamento que se abre com ele. Por meio dele a autora impõe significados ao material que toma em suas mãos a partir de vivências que se expressam e dirigem, com personalidade, uma abordagem própria e fértil tanto para a filosofia quanto para a psicologia.
Dr. Antônio Edmilson Paschoal
